"O artista é o viajante feliz que, após ter longamente navegado sobre as águas da dúvida, nas trevas do esforço, pode, enfim, bradar: terra!"

(Mikel Dufrenne)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Depois de onze anos da sua última obra poética, Ferreira Gullar publica, em 2010, Em alguma parte alguma. Já aclamado pela crítica – e não poderia ser diferente –, a obra poética aparece prefaciada por Alfredo Bosi e Antonio Carlos Secchin, que ressaltam a qualidade e a originalidade da voz poética de Gullar. Militante na vida política, artística e cultural, o poeta e crítico participou de movimentos vários, tendo acompanhado de perto alguns desdobramentos de vanguarda e, dentre eles, o Concretismo e suas ramificações, a partir da década de 50. Seu contato imediato com as linhas de força da poesia brasileira desde o Modernismo lhe proporcionou um poetar de múltiplas vozes e tendências, além de um diálogo fremente com a herança recebida dos vários modernismos e da contemporaneidade, o que se percebe, também, na última obra. Segue, abaixo, um poema que compõe Em alguma parte alguma:

A ESTRELA

Gatinho, meu amigo,
fazes ideia do que seja uma estrela?

Dizem que todo este nosso imenso planeta
        coberto de oceanos e montanhas
        é menos que um grão de poeira
        se comparado a uma delas

Estrelas são explosões nucleares em cadeia
numa sucessão que dura bilhões de anos

O mesmo que a eternidade

Não obstante, Gatinho, confesso
que pouco me importa
                  quanto dura uma estrela

Importa-me quanto duras tu,
                  querido amigo,
                  e esses teus olhos azul-safira
                  com que me fitas

2 comentários:

Cristiane Rodrigues disse...

Esse livro do Gullar é muito bom...

Lilian disse...

Este livro do Gullar é epifânico.. rss!