AMOR, POIS QUE É PALAVRA ESSENCIAL
(Carlos Drummond de Andrade)
Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.
Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?
O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.
Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?
Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.
Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.
E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da prórpia vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.
E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.
Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.
Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.
Este blog, sob responsabilidade de Alexandre de Melo Andrade, objetiva o contato com obras e teorias literárias, publicadas e inéditas, permitindo o diálogo entre os estudiosos desta arte e o acesso a estudos diversos abarcados por este universo.
"O artista é o viajante feliz que, após ter longamente navegado sobre as águas da dúvida, nas trevas do esforço, pode, enfim, bradar: terra!"
(Mikel Dufrenne)
(Mikel Dufrenne)
terça-feira, 4 de outubro de 2011
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Depois de muito tempo sem escrever, estou de volta ao meu blog, com tantas coisas que gostaria de compartilhar, mas que me ficam à margem, por serem muitas, e eu pouco. Nestes últimos tempos, afazeres dos mais diversos me impossibilitaram de me dedicar como gostaria a este blog... Gosto de sentar e escrever quando realmente tenho o que dizer e tempo de dizer. O primeiro não falta, mas o segundo tem sido um tanto escasso. O que tem de bom é que tenho me dedicado à leitura de textos diversos, tanto para fins acadêmicos (como emissão de pareceres para revistas), quanto para suprir apenas o gosto de boas leituras. Tenho relido Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, que numa primeira leitura não me despertou tanto interesse, mas que agora veio como facho de luz trazer clareza e suavidade aos meus dias. Estou lendo também A Gaia Ciência, do filósofo Nietzche, que me permite pensar alguns aspectos da arte contemporânea que me são caros, como a ideia do progresso e do eterno retorno. O mito Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, que comprei semana passada, está no armário, esperando como próxima leitura. Estou muito envolvido com o segundo número da revista on line "Travessias Interativas" (www.travessiasinterativas.com), o que também exige muitas leituras, dedicação e organização. Além destas questões, as aulas na faculdade também me tomam boa parte do tempo, embora eu as exerça com vontade e amor à literatura.
Àqueles que ainda "espionam" meu blog vez por outra, ficam minhas desculpas por não autalizá-lo como gostaria. Ou melhor, em lugar de minhas desculpas, ficam aqui palavras do personagem Riobaldo, de Grande Sertão: Veredas:
No real da vida, as coisas acabam com menos formato, nem acabam. Melhor assim. Pelejar por exato, dá erro contra a gente. Não se queira. Viver é muito perigoso...
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