"O artista é o viajante feliz que, após ter longamente navegado sobre as águas da dúvida, nas trevas do esforço, pode, enfim, bradar: terra!"

(Mikel Dufrenne)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A LIBERDADE É AZUL

Aqui vai uma dica de filme: A Liberdade é Azul, do diretor K. Kieslowski, com Juliette Binoche protagonizando. É extraordinária a forma como o sentimento de tristeza, dor e angústia é tratado no filme. Após perder o marido e a filha num acidente em que só ela sobrevive, Julie perde todo o sentido da vida e, após tentativa frustrada de suicídio, desfaz de todos os seus bens e passa a habitar no vazio da existência, onde nem mesmo consegue chorar ou expressar emoção alguma. Sempre auxiliando o marido nas composiçõe de suas músicas (seu marido era compositor mundialmente conhecido), Julie não consegue se interessar pelo fim de uma composição deixada por ele inacabada e, muito ocasionalmente, descobre que seu marido tinha uma amante; conhecendo a amante, descobre que ela está grávida dele. Ancorada por Olivier, amigo de seu falecido marido e homem que sempre nutrira uma paixão por ela, consegue dar continuidade à composição deixada pelo marido, e começa a redescobrir um sentido para a sua vida.
A cor azul, como metáfora a uma vida livre das amarras da instituição familiar e simbologia de dor e sofrimento, permeia todo o filme, ora através de objetos à volta da personagem, ora através da piscina onde ela mergulha para, também metaforicamente, sentir-se congelada e sem vida. A vida, continuando como flashs à sua volta, mostra que tudo se renova e que o movimento da existência faz brotar sentimentos onde e quando não se esperava que brotasse. É sensível e poética a forma como o diretor lidou com as questões referentes à morte, à vida e à liberdade. (Alexandre)