"O artista é o viajante feliz que, após ter longamente navegado sobre as águas da dúvida, nas trevas do esforço, pode, enfim, bradar: terra!"

(Mikel Dufrenne)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Lançamento do número 2 da Revista Travessias Interativas

Lançamos, em novembro, o número 2 da Revista Travessias Interativas - revista da UNIESP/Ribeirão Preto. Os artigos estão voltados ao tema: ARTE, EDUCAÇÃO, LINGUAGENS. Há, ainda, um artigo do escritor Marco Lucchesi, na sessão "Autor Convidado". Confiram!
http://www.travessiasinterativas.com/

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Há alguns dias, me veio este poema, inspirado pela obra de Marco Lucchesi, que tenho lido e estudado. É um poema tímido, sem grande ousadia, mas que concentra, a meu ver, o cerne da obra deste poeta.

AMOR
(A M. Lucchesi)


A iluminação
de Homero a Dante
de Dante a Marco
É mar que não foge
Que diz que amar
É que é essa espuma
Que vem na encosta
Como excesso de luz

terça-feira, 4 de outubro de 2011

E pra não dizer que não falei de Amor... e Erotismo...

AMOR, POIS QUE É PALAVRA ESSENCIAL
(Carlos Drummond de Andrade)



Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.


Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?


O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.


Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?


Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.


Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.


E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da prórpia vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.


E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.


Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.


Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Depois de muito tempo sem escrever, estou de volta ao meu blog, com tantas coisas que gostaria de compartilhar, mas que me ficam à margem, por serem muitas, e eu pouco. Nestes últimos tempos, afazeres dos mais diversos me impossibilitaram de me dedicar como gostaria a este blog... Gosto de sentar e escrever quando realmente tenho o que dizer e tempo de dizer. O primeiro não falta, mas o segundo tem sido um tanto escasso. O que tem de bom é que tenho me dedicado à leitura de textos diversos, tanto para fins acadêmicos (como emissão de pareceres para revistas), quanto para suprir apenas o gosto de boas leituras. Tenho relido Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, que numa primeira leitura não me despertou tanto interesse, mas que agora veio como facho de luz trazer clareza e suavidade aos meus dias. Estou lendo também A Gaia Ciência, do filósofo Nietzche, que me permite pensar alguns aspectos da arte contemporânea que me são caros, como a ideia do progresso e do eterno retorno. O mito Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, que comprei semana passada, está no armário, esperando como próxima leitura. Estou muito envolvido com o segundo número da revista on line "Travessias Interativas" (www.travessiasinterativas.com), o que também exige muitas leituras, dedicação e organização. Além destas questões, as aulas na faculdade também me tomam boa parte do tempo, embora eu as exerça com vontade e amor à literatura.
Àqueles que ainda "espionam" meu blog vez por outra, ficam minhas desculpas por não autalizá-lo como gostaria. Ou melhor, em lugar de minhas desculpas, ficam aqui palavras do personagem Riobaldo, de Grande Sertão: Veredas:

No real da vida, as coisas acabam com menos formato, nem acabam. Melhor assim. Pelejar por exato, dá erro contra a gente. Não se queira. Viver é muito perigoso...

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

REAPRESENTAÇÃO DO SARAU

É com imensa satisfação que REAPRESENTAREMOS O VI SARAU LITERÁRIO "ENTRE DEUS E O DIABO", no TEATRO MUNICIPAL de Ribeirão Preto, no dia 23 DE AGOSTO, às 20h.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Compartilho, com todos os seguidores do blog, a revista TRAVESSIAS INTERATIVAS! Ligada à UNIESP/Ribeirão Preto, a revista (ISSN 2236-7403) publica textos inéditos de iniciação científica e pós-graduados. Acabou de sair o primeiro volume com 5 artigos. O site é: www.travessiasinterativas.com
A revista disponibiliza a chamada para sua segunda edição e as normas para submissão de artigos.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

MAIS FOTOS VI SARAU

Cena de "Macário", de Álvares de Azevedo

Fragmento de Baudelaire

"A volta da mulher morena", de Vinícius de Moraes
 
Riobaldo, de "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa



Trecho de entrevista de Clarice Lispector, projetado no telão

quarta-feira, 15 de junho de 2011

fotos do sarau

HOMENAGEM A CLARICE LISPECTOR

CENA DE "O RETRATO DE DORIAN GRAY", DE OSCAR WILDE

POEMA DE MÁRIO QUINTANA

POEMA DE FERNANDO PESSOA

Sobre o VI Sarau...

Os dias têm sido tão intensos de atividade, que mal tenho conseguido parar. Ainda assim, reservei um tempinho para falar do VI Sarau Literário. Tendo como tema ENTRE DEUS E O DIABO, o sarau deste ano apresentou textos (declamados, dramatizados e cantados) que tematizavam a busca do sagrado, a transcendência, o misticismo, o espiritual. Durante dois meses, os alunos do curso de Letras da UNIESP/FABAN(mais especificamente os alunos da 3a e 5a etapa) ensaiaram o espetáculo, que teve duração de um pouco mais de duas horas, no SESC aqui de Ribeirão Preto. Com o sucesso do ano anterior, este ano não poderíamos ficar atrás. E não ficamos! A apresentação foi magnífica, muito além do que se espera de alunos de graduação, que nem são envolvidos com teatro ou tarefas afins. O público se divertiu, se emocionou, interagiu de forma positiva e, por mais de duas horas, esteve vidrado com a exemplar interpretação e dedicação dos alunos. A noite foi mágica, tudo funcionou como numa orquestra. Acho uma pena que, numa cidade como Ribeirão Preto, não haja mais desses eventos culturais, que levem ao grande público arte, cultura, conhecimento e sensibilidade. E por falar em público, superamos o do ano passado, de modo que mesmo de pé já não cabiam mais pessoas. Fica aqui o meu agradecimento aos queridos alunos e ex-alunos que participaram. Vocês foram supreeendentes! PARABÉNS!!!


sábado, 21 de maio de 2011

NOITE



Morrem os últimos raios do dia
sobre as águas tingidas pelo ocaso,
o azul do céu ressuma negro e raso,
e a sombra passa sinuosa e fria;
a noite recomeça a caminhada,
silenciosa, pela eterna estrada;
antes, vem Héspero a ditar-lhe o rastro
com a luminescência de seu astro.

Ó noite!, vem com teu manto sublime,
com teu espesso velame de vento
com a tua poção de esquecimento.
A paz em nosso coração imprime.
Ó noite!, vem, tão pura e sublimada,
alivia nossa alma angustiada;
com o teu canto, dá-nos esperanças,
como fazem as mães com as crianças.

(Marco Lucchesi)

sábado, 7 de maio de 2011

Tenho lido muito as obras poéticas do escritor contemporâneo Marco Lucchesi. Interessei-me por ele, num primeiro momento, quando li um texto crítico intitulado "Poesia brasileira contemporânea: multiplicidade e dispersão", de Domício Proença Filho. Então, comprei o livro Poemas Reunidos, que traz as obras poéticas de Lucchesi até o ano de 2000. Ali, fiquei impressionado com a originalidade do poeta. Ainda que seja uma poesia árdua pelo cruzamento que provoca entre poesia, história e filosofia, senti-me tragado por aqueles versos que exploram tão profundamento o tema do eterno retorno e da universalidade da poesia. Recentemente, adquiri sua última publicação, a obra em prosa O dom do crime. É impressionante como o autor consegue cruzar elementos da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, com sua própria história em andamento no romance. As coincidências entre a obra de Machado e a de Lucchesi vão pontuando o "dom"... ora o "Casmurro", ora o "do crime". Recentemente saiu a publicação de uma resenha que escrevi sobre O dom do crime, na revista Água Viva, da UnB. Abaixo, o link para a resenha:

domingo, 24 de abril de 2011

Já há sete anos lecionando no curso de Letras, é possível perceber as transformações que vão se operando no graduando desta área do conhecimento. Muitos chegam sem a real compreensão do que trata o curso; outros parecem buscar apenas o certificado, alegando ser necessário, "hoje em dia", ter um curso superior; e ainda há aqueles vocacionados para as letras, que já chegam com certa bagagem de leitura e vontade de aprofundar seus conhecimentos linguísticos e literários. No meio da caminho, muitos desistem, pois não é fácil estudar Letras sem a devida dedicação; por outro lado, muitos daqueles que chegam sem o suficiente preparo acabam se identificando de tal maneira que se tornam exemplos de boa conduta, dedicação e entusiasmo. Ensinar literatura é o mesmo que ensinar a gostar de literatura? Até certo ponto sim, porém não depende apenas do professor, mas de um envolvimento do aluno para com as disposições teóricas e as leituras "obrigatórias"; um dos sintomas de que este envolvimento esteja acontecendo é quando eles não encaram mais as leituras como obrigatórias, mas como fontes de conhecimento e prazer. O aluno não deve aprender Fernando Pessoa pensando que precisa ensinar, depois, no Ensino Médio, as características de cada heterônimo; também não deve estudar Romantismo com a ingênua visão de que precisa saber responder, na prova, onde o movimento começou, quais as suas características, seus autores e obras. O aluno deve se abrir ao olhar transformador, compreeder as obras e as matrizes teóricas como formas de ampliar sua visão sobre o mundo e sobre si mesmo. Um estudante de literatura não pode ser alheio aos conteúdos, mas perceber-se como parte integrada de um "mecanismo" que leva em conta subjetividades, percepções e criações. Afinal de contas, o que faz das grandes obras o que elas são, é sua capacidade de "sempre dizer", de "não se fechar a um tempo"; ainda que se olhe para ela com o distanciamento de um crítico, é preciso compreender e aceitar que num primeiro momento deve-se senti-la. Ler um conto de Clarice Lispector desejando aplicar teorias é como encará-la do ponto de vista matemático, lógico, preciso. Entregar-se a uma leitura de forma desprovida, inicialmente, é devolver a ela sua originalidade e sua capacidade de surpreender. Digo isso pensando nos estudantes de Letras, que muitas vezes consideram as leituras como um "peso" a ser carregado durante alguns anos de graduação. Por outro lado, é de extrema satisfação acompanhar o progresso de tantos outros alunos que se percebem amantes da literatura, e devoram as obras, as aulas e os estudos como quem experimenta sempre o novo; é nítida sua mudança de postura e de habilidade verbal, além de seu refinamento de espírito. Por estes alunos, vale muito a pena propor discussões, análises e leituras; com eles, rememoramos o prazer proporcionado pela descoberta das "primeiras e eternas letras".

terça-feira, 19 de abril de 2011

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Depois de onze anos da sua última obra poética, Ferreira Gullar publica, em 2010, Em alguma parte alguma. Já aclamado pela crítica – e não poderia ser diferente –, a obra poética aparece prefaciada por Alfredo Bosi e Antonio Carlos Secchin, que ressaltam a qualidade e a originalidade da voz poética de Gullar. Militante na vida política, artística e cultural, o poeta e crítico participou de movimentos vários, tendo acompanhado de perto alguns desdobramentos de vanguarda e, dentre eles, o Concretismo e suas ramificações, a partir da década de 50. Seu contato imediato com as linhas de força da poesia brasileira desde o Modernismo lhe proporcionou um poetar de múltiplas vozes e tendências, além de um diálogo fremente com a herança recebida dos vários modernismos e da contemporaneidade, o que se percebe, também, na última obra. Segue, abaixo, um poema que compõe Em alguma parte alguma:

A ESTRELA

Gatinho, meu amigo,
fazes ideia do que seja uma estrela?

Dizem que todo este nosso imenso planeta
        coberto de oceanos e montanhas
        é menos que um grão de poeira
        se comparado a uma delas

Estrelas são explosões nucleares em cadeia
numa sucessão que dura bilhões de anos

O mesmo que a eternidade

Não obstante, Gatinho, confesso
que pouco me importa
                  quanto dura uma estrela

Importa-me quanto duras tu,
                  querido amigo,
                  e esses teus olhos azul-safira
                  com que me fitas