"O artista é o viajante feliz que, após ter longamente navegado sobre as águas da dúvida, nas trevas do esforço, pode, enfim, bradar: terra!"

(Mikel Dufrenne)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

ACEITA O UNIVERSO
COMO TO DERAM OS DEUSES.
SE OS DEUSES TE QUISESSEM DAR OUTRO
TER-TO-IAM DADO.

SE HÁ OUTRAS MATÉRIAS E OUTROS MUNDOS -
HAJA.

(Alberto Caeiro)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A revista eletrônica Texto Poético publica, semestralmente, textos de crítica desenvolvidos por doutores e doutorandos, com qualificação reconhecida. A sua oitava edição acabou de sair e consta de 13 artigos e uma entrevista. Entre os artigos, há um sobre a poesia de Alexei Bueno escrito por mim. Abaixo, repasso o site para acesso:

http://www.textopoetico.org/

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Olhar-se no espelho
e captar-se a si
no próprio olhar-outro


(Sou o que vejo
o que é visto é-me!)


Espanto tímido
num espectro de luz
num relâmpago de nudez
lucidez...


Olhar o próprio olhar no espelho
é simples como
rezar poesia




(Alexandre)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mary e Max - uma amizade diferente



Eu não poderia deixar de compartilhar e indicar um novo filme, que vi por estes dias e muito me agradou. Mary e Max - uma amizade diferente, ainda que seja apresentado em animação, propõe uma reflexão para o público adulto a respeito das neuroses e fobias que tomaram conta dos consultórios de analistas e terapeutas no mundo contemporâneo. Dirigido por Adam Elliot, o filme conta a trajetória (de aproximadamente 15 anos) de dois personagens: Mary, com 8 anos de idade no início, e Max, com 44. Vivendo em mundos distantes - ela, na Austrália; ele, em Nova York - eles se correspondem durante o período em que dura a história, movidos, a princípio, pela curiosidade de Mary: ela quer saber se na América as crianças nascem do fundo de uma caneca de cerveja, conforme sua mãe lhe ensinara, ou de um outro modo, como de uma caneca de coca-cola, por exemplo. Desde a primeira carta trocada por ambos, há uma reflexão profunda acerca de amizade, confiança, convivência, origem da vida, relações sociais, religião etc, de onde emerge uma profunda amizade que, apesar da distância, passa também pela problemática da incompreensão, da discussão e do afastamento, com um final brilhante. Além das reflexões colocadas acima, o filme nos leva a pensar sobre o papel que assumimos num possível caos que tem se tornado a vida nos últimos decênios, as psicopatologias, os velhos e novos meios de comunicação/aproximação entre as pessoas, a melancolia provinda da modernidade, a distância entre teoria e prática dos estudos acadêmicos, e até mesmo em questões de ordem narrativa, como a narratividade das cartas, entremeadas pela narrativa em terceira pessoa de um observador que vai costurando a história e unindo os universos de Mary e Max. Fica, aqui, a recomendação! Abaixo, o trailer:


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Clarice Lispector, por Beth Goulart

Fiquei emocionado este final de semana, ao assistir à peça de teatro "Simplesmente eu, Clarice Lispector", no teatro Renaissance - São Paulo - com atuação e direção de Beth Goulart. O espetáculo mostra a trajetória da escritora em direção ao entendimento do amor, com personagens dialogando sobre vida e morte, criação, Deus, cotidiano, palavra, silêncio, solidão, inspiração e entendimento. O texto é extraído de depoimentos, entrevistas, correspondências e trechos das obras Perto do Coração Selvagem, Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres e dos contos Amor e Perdoando Deus. Beth Goulart interpretou brilhantemente estes textos, inclusive Clarice Lispector como personagem de si mesma, no mínimo provocando no público um desejo imenso de conhecer mais profundamente esta autora, que é uma das mais intrigantes de nossa história literária. Vale a pena conferir!


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Vejam a delicadeza de um poema de Fabrício Corsaletti, um poeta estreante que vem se destacando entre os contemporâneos:

Tomates

os tomates
fervendo na panela
meu pai minha mãe
na sala televisão
fiquei olhando
os tomates
estava frio o bafo
quente dos tomates
esquentava as mãos

saía da panela
já naquele dia
um cheiro
forte de passado

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Árvore seca
sem copas, sem folhas
seus galhos presos no ar
arquitetura.

A árvore em si, toda aberta
aberta em desflor
rígida desconstrução.

A árvore se mostra
em sua secura sustentada
em rede enrijecida
em fino equilíbrio.

Árvore antiárvore
Absoluta.

(Alexandre de Melo Andrade)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

SOBRE A SEDUÇÃO

Encontrei, esses dias, o seguinte texto:

     O que se diz de imediato sobre a sedução é que é um jogo. Caçada silenciosa entre dois olhares; captura numa rede perigosa de palavras. Jogo arriscado e fascinante - angústia e gozo - onde o vencedor não sabe o que fazer de seu troféu e o perdedor só sabe que perdeu seu rumo: um jogo cuja única possibilidade de empate se chama amor.
     Jogo que pretendo abordar do ponto de vista do aparente perdedor - o seduzido - já que é ele quem nos deixa registro sobre sua experiência. É o seduzido que se expressa - na poesia, na literatura, nos consultórios de psicanálise. É o seduzido que tenta compreender a transformação que se deu nele ao mesmo tempo que tenta entender o poder do olhar sedutor. [...] O sedutor é o que não se revela. Mas revela alguma coisa - o quê? - sobre o seduzido.
(Maria Rita Kehl)

E por falar em sedução, aqui segue o poema "A mulher e a casa", de João Cabral de Melo Neto:

Tua sedução é menos
de mulher do que de casa:
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.

Mesmo quando ela possui
tua plácida elegância,
esse teu reboco claro,
riso franco de varandas,

uma casa não é nunca
só para ser contemplada;
melhor: somente por dentro
é possível contemplá-la.

Seduz pelo que é dentro,
ou será, quando se abra;
pelo que pode ser dentro
de suas paredes fechadas;

pelo que dentro fizeram
com seus vazios, com o nada;
pelos espaços de dentro,
não pelo que dentro guarda;

pelos espaços de dentro:
seus recintos, suas áreas,
organizando-se dentro
em corredores e salas,

os quais sugerindo ao homem
estâncias aconchegadas,
paredes bem revestidas
ou recessos bons de cavas,

exercem sobre esse homem
efeito igual ao que causas:
a vontade de corrê-la
por dentro, de visitá-la.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Livros na era da informática

Algumas semanas de férias e aqui estamos novamente, rodeados por livros, compromissos, trabalhos... e a vida segue seu curso, não em linha reta, mas em linhas sinuosas que se justificam na medida em que se perfazem. A rotina volta em nosso cotidiano, porém acrescida de novas experiências e expectativas.
O que mais tenho ouvido ultimamente é a respeito do fim das livrarias em detrimento dos livros virtuais. Passeando pela livraria Cultura, em S. Paulo, e por outras de nossa região, fica difícil acreditar nisso. Não se trata do fim das livrarias, dos livreiros nem dos livros da forma como conhecemos. Trata-se, na verdade, de uma nova forma de comercialização e acesso a eles que vem crescendo na sociedade informatizada, como tantas outras coisas que igualmente facilitaram a vida das pessoas e o acesso a informações e produtos de forma virtual. Por outro lado, nunca se produziu tanta poesia no Brasil, postada em blogs e sites especializados. Tamanha é a dificuldade em se publicar livros no Brasil, que muitos optaram por divulgar seus próprios textos pelo acesso via internet. Não me refiro apenas a poetas e poesias, mas a filósofos, biólogos, sociólogos e tantos outros que, capacitados intelectualmente para a divulgação de suas ideias, dedicam-se a produzir e provocar ideias, contactando-se com pessoas diversas, sendo mais lidos do que outros tantos que têm seus livros adormecidos nas estantes das bibliotecas e livrarias. O filósofo, escritor e professor Paulo Ghiraldelli Jr., da UFRRJ, por exemplo, envia semanalmente, via internet, seus textos sobre filosofia e educação, com qualidade incomensurável, contribuindo para a formação de novos leitores e proporcionando reflexão e conhecimento. Acredito que não estamos diante de um decreto apocalíptico do fim dos tempos das livrarias e das bibliotecas, mas diante de uma nova era em que o conhecimento e a propagação de ideias estejam rompendo a barreira do próprio mercado editorial, avançando rumo a uma experiência de criatividade do sujeito na sua própria liberdade de expressão artística e informativa.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A LIBERDADE É AZUL

Aqui vai uma dica de filme: A Liberdade é Azul, do diretor K. Kieslowski, com Juliette Binoche protagonizando. É extraordinária a forma como o sentimento de tristeza, dor e angústia é tratado no filme. Após perder o marido e a filha num acidente em que só ela sobrevive, Julie perde todo o sentido da vida e, após tentativa frustrada de suicídio, desfaz de todos os seus bens e passa a habitar no vazio da existência, onde nem mesmo consegue chorar ou expressar emoção alguma. Sempre auxiliando o marido nas composiçõe de suas músicas (seu marido era compositor mundialmente conhecido), Julie não consegue se interessar pelo fim de uma composição deixada por ele inacabada e, muito ocasionalmente, descobre que seu marido tinha uma amante; conhecendo a amante, descobre que ela está grávida dele. Ancorada por Olivier, amigo de seu falecido marido e homem que sempre nutrira uma paixão por ela, consegue dar continuidade à composição deixada pelo marido, e começa a redescobrir um sentido para a sua vida.
A cor azul, como metáfora a uma vida livre das amarras da instituição familiar e simbologia de dor e sofrimento, permeia todo o filme, ora através de objetos à volta da personagem, ora através da piscina onde ela mergulha para, também metaforicamente, sentir-se congelada e sem vida. A vida, continuando como flashs à sua volta, mostra que tudo se renova e que o movimento da existência faz brotar sentimentos onde e quando não se esperava que brotasse. É sensível e poética a forma como o diretor lidou com as questões referentes à morte, à vida e à liberdade. (Alexandre)


quarta-feira, 30 de junho de 2010

CHEGUEI AO MUNDO DESARRUMADO
E FUI ME ARRUMANDO.

TRISTE SINA!

(Alexandre)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Orides Fontela: sempre me encantando com a delicadeza de seus versos...

Se vens a uma terra estranha
curva-te
se este lugar é esquisito
curva-te
se o dia é todo estranheza
submete-se
_ és infinitamente mais estranho
(Orides Fontela)

sábado, 19 de junho de 2010

LIVRE
(A Clarice Lispector)

Ser livre:
Conhecer-se.

Ser livre:
Ciência (demais) de si.

Ser livre dói:
exige escolhas.

_ Você matou meu personagem!

(Alexandre de Melo Andrade)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

V SARAU LITERÁRIO - MORRO DEPOIS DE TE BEIJAR


 



Ontem aconceteceu o V Sarau Literário UNIESP-FABAN, dos alunos da graduação em Letras, organizado e dirigido por mim, no SESC aqui de Ribeirão Preto. A expectativa era grande, pois o sucesso do sarau do ano passado nos fez pensar numa superação e ousar novos desafios. Ficamos todos surpresos com a quantidade de pessoas - aproximadamente 200 -, o que fez com que todo o espaço do Galpão de Eventos ficasse lotado, a ponto de uma parte do público ter ficado de pé pela impossibilidade de se acomodarem as pessoas sentadas. O sarau foi marcado por apresentações no palco e outras que surpreendiam o público no meio mesmo da plateia. Guiados pela voz de um narrador que mostrava algumas das faces da relação amorosa, os alunos declamaram textos em prosa e em verso de escritores como Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Florbela Espanca, Shakespeare, Vinícius de Moraes, Sóror Mariana Alcoforado, Eurípedes, José de Alencar, Graciliano Ramos e outros. O público ficou emocionado com a qualidade técnica e textual do sarau, reagindo de forma calorosa às apresentações. Confesso ter ficado espantado com a repercussão do evento, e sinto-me realmente satisfeito e lisonjeado por ter contribuído para a divulgação da literatura de forma mais próxima do grande público. Pela singela e marcante voz de nossos queridos alunos, pessoas dos mais variados contextos entraram no universo dos mais variados escritores, saindo de lá inebriados de poesia. Já fica aqui a expectativa para o próximo sarau!!!
Não posso deixar de agradecer pessoas que tiveram fundamental importância para a realização do evento... tudo funcionou como uma orquestra: ao apoio do SESC - com destaque à figura do Cléber -, que apostou mais uma vez na qualidade do sarau; à coordenadora do curso de Letras, Valéria Castrequini, pelo apoio sempre imprescindível; aos professores do curso de Letras, solícitos e generosos; aos ex-alunos Alan, Bruna e Talita, hoje excelentes professores, que voltaram para novamente participarem do sarau; às alunas Karina e Priscila, que contribuíram, de forma competente, para a organização técnica do evento; ao Luciano, responsável técnico pela iluminação, pelo brilhantismo com que desempenhou sua função; ao Newton, no que tange o suporte musical, que mais uma vez surpreendeu a todos com seu teclado, seu violão e sua voz; ao Crístian, por ter se envolvido na divulgação do sarau, tendo demonstrado grande competência publicitária; ao CNA, escola de idiomas, pelo patrocínio concedido; e, para terminar, aos alunos que participaram do sarau, dando um verdadeiro "show" de declamação.
Sinto-me ainda em estado de encantamento com o que aconteceu ontem. MEU OLHAR ESTÁ POÉTICO!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ana Cristina César foi dessas poetas que marcaram a história da poesia brasileira pela intensidade vital de seus versos. Embora estivesse no contexto da Poesia Marginal, ousou uma escrita que, confundida com biografismos, revela uma poesia fragmentária e com tendências contemporâneas. Nascida no Rio de Janeiro em 2 de junho de 1956, a poeta cometeu suicído em 20 de outubro de 1983. Encontrei esses dias o seguinte poema, de Drummond, dedicado a ela:

Ausência



Por muito tempo achei que ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta..
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
Ausência é um estar em mim.
E sinto-a tão pegada, aconchegada nos meus braços
Que rio e danço e invento exclamações alegres.
Porque a ausência, esta ausência assimilada,
Ninguém a rouba mais de mim.


(Carlos Drummond de Andrade – Com o pensamento em Ana Cristina)

domingo, 16 de maio de 2010

Livraria, Café e Cinema


Gosto de passear em shoppings, mas fico pensando o que me atrai neste lugar. Como não sou consumista nem do tipo que aprecia vitrine como se estivesse diante de um copo d'água depois de caminhar muito no deserto, constatei que nunca consigo entrar num deles sem ficar parte do tempo na livraria. Sim, o que há de melhor num shopping é a livraria, onde o consumo vem acompanhado de um acréscimo no conhecimento e um prazer ao espírito. Ainda fiquei pensando que todas as vezes, na saída, paro num café, peço um expresso e fico observando o vai-e-vem de pessoas enquanto me entregam o café e eu o saboreio como quem contempla, com o próprio palato, a vida que acontece à minha volta. E por último, vejo que o cinema me agrada, embora não vá com tanta constância. Livraria, café e cinema... entrelaçados por uma adrenalina aos sentidos e às emoções, embora com a calmaria de quem descobre o prazer em coisas tão ao alcance da mão e dos olhos. Shopping sem livraria, café e cinema seria o lugar mais chato do mundo!

Alexandre de Melo Andrade.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

AS TRÊS EXPERIÊNCIAS



Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou a minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. "O amar os outros" é tão vasto que inclui até o perdão para mim mesma com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida . Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca. E nasci para escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que, foi esta que eu segui. Talvez porque para outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E no entanto cada vez que eu vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estréia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever. Quanto aos meus filhos, o nascimento deles não foi casual. Eu quis ser mãe. Meus dois filhos foram gerados voluntariamente. Os dois meninos estão aqui, ao meu lado. Eu me orgulho deles, eu me renovo neles, eu acompanho seus sofrimentos e angústias, eu lhes dou o que é possível dar. Se eu não fosse mãe, seria sozinha no mundo. Mas tenho uma descendência, e para eles no futuro eu preparo meu nome dia a dia. Sei que um dia abrirão as asas para o vôo necessário, e eu ficarei sozinha: É fatal, porque a gente não cria os filhos para a gente, nós os criamos para eles mesmos. Quando eu ficar sozinha, estarei seguindo o destino de todas as mulheres. Sempre me restará amar. Escrever é alguma coisa extremamente forte mas que pode me trair e me abandonar: posso um dia sentir que já escrevi o que é meu lote neste mundo e que eu devo aprender também a parar. Em escrever eu não tenho nenhuma garantia. Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse a minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera.
(Clarice Lispector)

sábado, 24 de abril de 2010

MORRO DEPOIS DE TE BEIJAR
V SARAU LITERÁRIO – UNIESP/FABAN


Partindo da última frase de Otelo – “Morro depois de te beijar” –, da tragédia de Shakespeare, a UNIESP/FABAN apresenta seu V Sarau Literário. Formado por alunos do curso de graduação em Letras, o sarau deste ano traz como tema os conflitos diversos que tangem a relação amorosa. Os sentimentos despertados pela trama dos amantes aparecem, na apresentação, tanto nas suas manifestações mais sutis como nas mais arrebatadoras. A “quadrilha amorosa”, os encontros e desencontros, as paixões intensas e as surpresas que desmontam a razão aparecerão em textos declamados e dramatizados de grandes nomes da literatura brasileira e estrangeira, como Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Vinícius de Moraes, José de Alencar, Florbela Espanca, Goethe, Shakespeare, Jean Paul Sartre e outros. O amor, situado entre o morrer e o beijar, aponta para prismas que atestam sua mais paradoxal definição!



Dia 02 de junho, às 20 h


No Galpão de Eventos do SESC – Ribeirão Preto


Direção: Alexandre de Melo Andrade
O amor é que é essencial

O AMOR é que é essencial.
O sexo é só um acidente.
Pode ser igual
Ou diferente.
O homem não é um animal:
É uma carne inteligente,
Embora às vezes doente.

(Fernando Pessoa)

sábado, 10 de abril de 2010

V SARAU LITERÁRIO

A UNIESP-FABAN apresenta, sob minha direção, o V Sarau Literário:

MORRO DEPOIS DE TE BEIJAR

Dia 02 de junho, às 20h, no Galpão de Eventos do SESC - Ribeirão Preto.


Em breve, uma sinopse do evento aqui no blog. 

sexta-feira, 2 de abril de 2010

INSÔNIA

Não é por falta de sono, é por falta de desligamento mesmo. Ter insônia é ter que se entregar e não querer, ou não poder, ou não conseguir, ou tudo isso junto. É fechar os olhos para o quarto, mas não fechá-los para si. É permanecer, quando se desejasse e devesse ir. É um ser-eu-aqui, quando precisaria de um ser-eu-lá, ou melhor, apenas um “lá”, sem a experiência consciente de um ser-eu. Ser-eu é vigília. Mas há pessoas que não se-são nem em vigília, e por isso seus olhos ficam abertos ou fechados para o mundo, mas sempre fechados para si. Se os olhos são o espelho da alma, os do insone são um reflexo permanente. Durante a insônia, não há nada mais cansativo do que pensar; pior do que pensar é brigar contra o pensamento, pois pensamos em não pensar, e por isso pensamos duas vezes. Ter insônia é então ser duplo: o que ordena, e o que não obedece: o que está-sendo e o que não deseja estar-sendo...

(Alexandre de Melo Andrade)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

DEFESA DA POESIA (SHELLEY)

Um poeta é um rouxinol que na escuridão canta a sua própria soledade com doces gorjeios; os seus ouvintes são como homens fascinados pela melodia de um músico, que não se vê, e que sente que eles se comovem e enternecem, sem contudo saberem como ou porquê.
*
A poesia tudo conduz para o belo: exalta a beleza do que é mais belo e acrescenta beleza à mais deformada das coisas; casa o júbilo e o horror, a pena e o prazer, o eterno e o mutável; submete à união, sob o seu brando jugo, todas as coisas irreconciliáveis. Transmuta tudo quanto toca [...]

sábado, 13 de março de 2010

"A pouca realidade" - Fala, Ferreira Gullar!!!

Esta semana li um texto de Ferreira Gullar na Folha de S. Paulo (7 de março), que achei por bem compartilhar. O poeta e ensaísta questiona os rumos tomados pelos organizadores da próxima Bienal de São Paulo. No evento, serão exibidos filmes de ficção que tratam da realidade política, econômica e social, o que denota uma nítida perda do sentido artístico sempre inerente à Bienal, em detrimento de uma mostra da "vida real". Segundo Gullar, "O realismo do passado representava a realidade; o de agora mostra-a". Mesmo quando Coubert apresentou ao público francês as telas "realistas", o que estava em jogo era uma leitura, ou melhor dizendo, possiblidade do real, e não uma fotografia dele, como querem no evento paulistano. Gullar, em seu texto, passeou por vários artistas plásticos, dos realistas aos impressionistas, dos dadaístas aos cubistas etc, mostrando que "A arte existe porque a realidade não nos basta", e que "copiar a realidade é chover no molhado". O mundo em seu sentido literal é já conhecido por todos, e sua retratação nada acrescentaria aos nossos sentidos. A arte, por outro lado, traz "um deslumbramento a mais no mundo". Contentar-se apenas com o que é permitido à visão e ao tato físicos é, sem dúvida, renegar a capacidade do homem de transfigurar e ou mesmo transcender o mundo concreto, alcançando uma percepção mais depurada de si mesmo e do que nos circunda. Copiar o mundo é informar, dizer o que é notório, constatar o que é óbvio; fazer arte é desautomatizar, desfazer as evidências e despertar a imaginação.  Bastar-se com a realidade é assumir que haja um controle rigoroso sobre o mundo e que existe apenas um juízo definitivo acerca de tudo.

sábado, 6 de março de 2010

SONHAMOS COM VIAGENS ATRAVÉS DO TODO CÓSMICO: ENTÃO O UNIVERSO NÃO ESTÁ DENTRO DE NÓS? AS PROFUNDEZAS DE NOSSO ESPÍRITO NÓS NÃO CONHECEMOS. - PARA DENTRO VAI O MISTERIOSO CAMINHO. EM NÓS, OU EM PARTE NENHUMA, ESTÁ A ETERNIDADE COM SEUS MUNDOS, O PASSADO E O FUTURO.

NOVALIS. Pólen; Fragmentos, diálogos, monólogo. Trad. e notas de Rubens R. Torres Filho. São Paulo: Iluminuras, 1988.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Esta semana passarei por exame de qualificação de doutorado, na UNESP de Araraquara. Meu trabalho, intitulado A transcendência pela natureza em Álvares de Azevedo, proporciona uma discussão a respeito da construção de um universo fugaz criado pelo poeta em suas poesias, passando pela experiência estética da natureza em suas diversas manifestações devaneantes. Não vou resumir o trabalho nem falar sobre a elaboração dele, o que me ocuparia o tempo em demasia. O que me motivou a escrever hoje foi o entusiasmo por ter desenvolvido um trabalho com tanto prazer e satisfação. Todo trabalho crítico requer tempo, paciência e profunda reflexão, ainda mais por se tratar de uma tese de doutorado, onde o grau de originalidade é exigido... Quando iniciei o mestrado, em defesa da poética do mesmo autor, não imaginei que ficaria com Álvares de Azevedo por tanto tempo. Motivado pelo poeta, passeei pelas paragens de vários romantismos, de onde extraí conhecimentos que vão muito além daqueles expressos nas linhas da tese a ser finalizada. Acredito que antes do discurso crítico, há uma intersecção entre o autor e o leitor, provocada pela sensibilidade... É preciso "entrar" na obra literária, pois só assim será possível distanciar-se dela para dizer aos outros o que se observou. Considero realmente difícil dizer de uma obra sem antes fazer uma "entrada subterrânea" nela, deleitando-se com as formas abertas por ela aos nossos sentidos. O que move o trabalho do crítico não é apenas a curiosidade - como o seria no caso de um jornalista ou mesmo um cientista - mas a extrema necessidade de falar sobre a obra, de compartilhar os segredos da escritura literária e de nos revelar através dela. Meu trabalho não está pronto, ainda resta escrever um capítulo que me tomará um bom tempo após o exame de qualificação. Porém, já consigo ver claramente o caminho que trilhei até aqui na defesa desse ideal panteístico da poesia do jovem Álvares de Azevedo, e não tenho dúvida de que o que "desocultei" de sua obra me proporcionou momentos de intensa reflexão e de ousadia crítica e poética. Ressalto que meu trabalho e a produção intelectual realizada neste últimos três anos contaram com total apoio de meu orientador - verdadeiro guru intelectual - Antônio Donizeti Pires, a quem faço um enorme agradecimento.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Tem sido comum, na literatura contemporânea, a retomada do estilo e dos motivos clássicos. Poetas como Ivan Junqueira e Alexei Bueno reabsorvem a estética clássica, fundindo o tempo mítico ao tempo histórico, de onde emerge uma poesia metafísica, que interroga a dúvida contingente por meio de grandes arquétipos da Antiguidade. Destacamos uma poesia de Alexei Bueno, extraída do livro Lucernário:

Os tempos


Tu és moderno. Neste momento,
Enquanto passa a tua alma e o vento,


Uma mulher, de um homem largada,
Mata os dois filhos, alucinada.


Degola os dois, enquanto farreia
O pai. Seu nome não é Medéia.


É um outro nome. Tu és moderno.
E o vento passa, odorante e terno.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

CIDADE


Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e existem praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes e não vejo
Nem o crescer do mar nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pelas sombras das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O MELHOR FILME ESTRANGEIRO DO ANO

Aqui vai uma boa dica de filme: A PARTIDA, lançado em 2008, sob direção de Yojiro Takita, e vencedor de melhor filme estrangeiro. O filme trabalha magistralmente com a antítese morte x vida. O personagem Daigo, vendo seu sonho de tocar violoncelo profissionalmente ir por água abaixo, aceita (depois de certa hesitação) um trabalho visto de forma preconceituosa pela sociedade: manipular pessoas mortas, devolvendo-lhes beleza antes do ritual de cremação. Uma série de símbolos são arrolados durante a história, patenteando a relação que se tem com a morte no mundo moderno e contemporâneo. O som do violoncelo acompanha a maior parte do filme, insinuando uma relação entre a arte, a vida e a morte, de forma que a arte seja entrevista não como meio utilitário numa sociedade mercadológica, mas como instância que sinaliza o estar-no-mundo. Confesso que o filme me emocionou por, além desses aspectos, ainda permitir uma discussão a respeito dos laços de afetividade.



sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Literatura: entre a produção e o consumo. O que avaliar?

Foram eleitos, recentemente, os 10 melhores livros brasileiros da década, que seguem abaixo:



1. Dois irmãos – Milton Hatoum (Cia. das Letras)


2. Nove noites – Bernardo Carvalho (Cia. das Letras)


3. Eles eram muitos cavalos – Luiz Ruffato (Record)


4. O vôo da madrugada – Sérgio Sant’Anna (Cia. das Letras)


5. Acenos e afagos – João Gilberto Noll (Record)


6. Elefante – Francisco Alvim (Cia. das Letras)


7. Máquina de escrever – Armando Freitas Filho (Nova Fronteira)


8. O filho eterno – Cristóvão Tezza (Record)


9. Um defeito de cor – Ana Maria Gonçalves (Record)


10. Leite derramado – Chico Buarque (Cia. das Letras)


O julgamento foi feito por dez críticos e escritores especializados, e gerou polêmica no circuito televisivo e jornalístico, entre aqueles que acreditam ser injusta a classificação acima. O novelista Aguinaldo Silva, por exemplo, publicou em seu blog sua indignação por tratar-se de livros de pouca circulação nas livrarias, o que pôde constatar quando esteve em uma delas para comprá-los. Ainda fez crítica em relação ao livro “Leite Derramado”, de Chico Buarque, considerando que, ao folheá-lo, não sentiu interesse em lê-lo. Jean Willys, mestre em literatura, escritor e igualmente envolvido com televisão, endossou a visão de Aguinaldo Silva, dizendo haver “apadrinhagem” nessa escolha e que os escritores eleitos obedecem a critérios estéticos apenas para agradarem a essa crítica literária; o rapaz ainda inviabiliza a lista por considerar que os livros mais vendidos não fazem parte dela. Opiniões como estas corroboram a relação entre qualidade e consumo!...


Pensando nisso, voltei ao livro Altas Literaturas, de Leyla Perrone-Moisés, num trecho em que ela destaca o seguinte comentário de T. Adorno:


Não se deve buscar a relação da arte com a sociedade na esfera da recepção. Essa relação é anterior à recepção, e se situa na produção. O interesse do deciframento social da arte deve voltar-se para a produção, em vez de se contentar com sondagens e classificações dos impactos, que na maior parte das vezes, por razões sociais, divergem das obras de arte e de seu conteúdo social e objetivo. Desde tempos imemoriais, as reações dos homens às obras de arte são mediatizadas ao extremo e não se referem imediatamente à coisa.

Pensem nisso e tirem suas conclusões. Se quiserem compartilhar, deixem seus comentários, que será uma interessante discussão.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Olá, pessoal! Desculpem o tempo em que fiquei sem fazer postagens, mas é que aproveitei o período para me desligar um pouco de tudo... e foi necessário mesmo, pois 2009 foi um ano pra lá de cansativo, embora muito positivo. Aos poucos estou retomando meus afazeres, e confesso que senti falta de escrever no blog, compartilhar textos e ideias. Em tempos de "crise da sensibilidade", é um privilégio mantermos um espaço virtual que nos permita um contato através da literatura. É com grande alegria que reinicio este nosso contato!