INSÔNIA
Não é por falta de sono, é por falta de desligamento mesmo. Ter insônia é ter que se entregar e não querer, ou não poder, ou não conseguir, ou tudo isso junto. É fechar os olhos para o quarto, mas não fechá-los para si. É permanecer, quando se desejasse e devesse ir. É um ser-eu-aqui, quando precisaria de um ser-eu-lá, ou melhor, apenas um “lá”, sem a experiência consciente de um ser-eu. Ser-eu é vigília. Mas há pessoas que não se-são nem em vigília, e por isso seus olhos ficam abertos ou fechados para o mundo, mas sempre fechados para si. Se os olhos são o espelho da alma, os do insone são um reflexo permanente. Durante a insônia, não há nada mais cansativo do que pensar; pior do que pensar é brigar contra o pensamento, pois pensamos em não pensar, e por isso pensamos duas vezes. Ter insônia é então ser duplo: o que ordena, e o que não obedece: o que está-sendo e o que não deseja estar-sendo...
(Alexandre de Melo Andrade)
Um comentário:
Muito bom! Gostei!
beijos
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