"O artista é o viajante feliz que, após ter longamente navegado sobre as águas da dúvida, nas trevas do esforço, pode, enfim, bradar: terra!"

(Mikel Dufrenne)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mary e Max - uma amizade diferente



Eu não poderia deixar de compartilhar e indicar um novo filme, que vi por estes dias e muito me agradou. Mary e Max - uma amizade diferente, ainda que seja apresentado em animação, propõe uma reflexão para o público adulto a respeito das neuroses e fobias que tomaram conta dos consultórios de analistas e terapeutas no mundo contemporâneo. Dirigido por Adam Elliot, o filme conta a trajetória (de aproximadamente 15 anos) de dois personagens: Mary, com 8 anos de idade no início, e Max, com 44. Vivendo em mundos distantes - ela, na Austrália; ele, em Nova York - eles se correspondem durante o período em que dura a história, movidos, a princípio, pela curiosidade de Mary: ela quer saber se na América as crianças nascem do fundo de uma caneca de cerveja, conforme sua mãe lhe ensinara, ou de um outro modo, como de uma caneca de coca-cola, por exemplo. Desde a primeira carta trocada por ambos, há uma reflexão profunda acerca de amizade, confiança, convivência, origem da vida, relações sociais, religião etc, de onde emerge uma profunda amizade que, apesar da distância, passa também pela problemática da incompreensão, da discussão e do afastamento, com um final brilhante. Além das reflexões colocadas acima, o filme nos leva a pensar sobre o papel que assumimos num possível caos que tem se tornado a vida nos últimos decênios, as psicopatologias, os velhos e novos meios de comunicação/aproximação entre as pessoas, a melancolia provinda da modernidade, a distância entre teoria e prática dos estudos acadêmicos, e até mesmo em questões de ordem narrativa, como a narratividade das cartas, entremeadas pela narrativa em terceira pessoa de um observador que vai costurando a história e unindo os universos de Mary e Max. Fica, aqui, a recomendação! Abaixo, o trailer:


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Clarice Lispector, por Beth Goulart

Fiquei emocionado este final de semana, ao assistir à peça de teatro "Simplesmente eu, Clarice Lispector", no teatro Renaissance - São Paulo - com atuação e direção de Beth Goulart. O espetáculo mostra a trajetória da escritora em direção ao entendimento do amor, com personagens dialogando sobre vida e morte, criação, Deus, cotidiano, palavra, silêncio, solidão, inspiração e entendimento. O texto é extraído de depoimentos, entrevistas, correspondências e trechos das obras Perto do Coração Selvagem, Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres e dos contos Amor e Perdoando Deus. Beth Goulart interpretou brilhantemente estes textos, inclusive Clarice Lispector como personagem de si mesma, no mínimo provocando no público um desejo imenso de conhecer mais profundamente esta autora, que é uma das mais intrigantes de nossa história literária. Vale a pena conferir!