"O artista é o viajante feliz que, após ter longamente navegado sobre as águas da dúvida, nas trevas do esforço, pode, enfim, bradar: terra!"

(Mikel Dufrenne)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

No link abaixo, há uma publicação minha que acabou de sair pela Revista Estação Literária, da UEL. Trata-se de um artigo onde comparo três poesias portuguesas do século XX ("Lisbon Revisited 1923", de Álvaro de Campos, "Cântico Negro", de José Régio, e "Livro de Horas", de Miguel Torga), que nos permitem filiar esses poetas a um viés filosófico-existencialista.

http://www.uel.br/pos/letras/EL/vagao/EL3Art1.pdf

Alexandre de Melo Andrade.


William Blake (1757-1827) é uma das grandes vozes da poesia inglesa do século XVIII. Nasceu em Londres, onde morou praticamente por toda a vida. Sua obra não pode ser dissociada de uma aura mística e religiosa. Abaixo, transcrevemos alguns dos seus "Provérbios do Inferno", extraídos de sua obra O casamento do céu e do inferno:

* No tempo de semear, aprende; na colheita, ensina, e no inverno, goza.

* A Prudência é uma velha solteirona, rica e feia, cortejada pela Incapacidade.

* As horas da tolice são medidas por ponteiros, mas as da sabedoria, não há relógios que as meça.

* Se o louco persistisse em sua loucura, tornar-se-ia sábio.

* A ave, um ninho; a aranha, uma teia; o homem, a amizade.

* O que hoje é evidência foi outrora imaginação.

* Um pensamento abarca a imensidão.

* Quem sofreu o teu domínio te conhece.

* Espere veneno da água estagnada.

* Escuta a crítica dos imbecis. É um nobre elogio.

* A alma imersa em delírios jamais será maculada.

* Ergue a cabeça ao avistares uma águia. Estarás vendo uma porção do Gênio.

* Assim como a lagarta escolhe as melhores formas para depositar seus ovos, o sacerdote arroja suas maldições sobre as mais sublimes alegrias.

*Quem não irradia luz jamais será uma estrela.

*Antes que nutra desejos irrealizáveis, é melhor matar a criança no berço.
PERDIÇÃO


“Meu ódio queima;
Meu coração destrói;
Minha calma tudo mata;
Que maldição é esta que me aflige
Se nada ao mundo eu disse?

“Entre negras pradarias
Permeadas de vontades vazias
Sinto que nada mais grita.
Tudo cessou, tudo acabou.
Nada mais aqui restou...

“Meu destino está perdido
Lancei-me ao Vazio,
Sem esperança, sem vida.
Mia alma grita
Mas ninguém a ampara...

“A desgraça me aflige,
E, jogado no Estige,
Peço aos mortos
Que se unam a meu coro
E que amaldiçoem estes reinos!”

(Conde Darkheart)

sábado, 10 de outubro de 2009

Abaixo transcrevemos o resumo de alguns projetos em andamento de alunos da UNIESP-FABAN.

O Caráter Fantástico em Harry Potter and the Sorcerer's Stone

Victor Gobatti
Orientador: Prof. Ms. Alexandre de Melo Andrade

RESUMO: A literatura fantástica, desde seu surgimento no séc. XVIII, promove discussões e divergências entre os teóricos que a estudam e conceituam, trazendo à tona diversas dúvidas quanto à inclusão ou exclusão de obras perante a luz do fantástico enquanto gênero literário. Este trabalho de pesquisa científica vem apresentar, em primeira instância, um breve panorama histórico do surgimento de tal signo literário, assim como expor algumas das principais características que posicionam uma obra como fantástica, sendo elas: a verossimilhança e o processo de hesitação, que à luz da teoria de alguns estudiosos, são fundamentais para essa classificação. E em um segundo momento, promover a análise da obra Harry Potter and the Sorcerer’s Stone, de J.K Rowling (1997), apresentando argumentos que a posicionarão nítida e claramente dentro da literatura fantástica, afastando-a de qualquer outra classificação que possa impulsioná-la para subgêneros convizinhos do fantástico.



A poética da Natureza em O Pastor Amoroso, de Alberto Caeiro
Alex Moretto
Orientador: Prof. Ms. Alexandre de Melo Andrade

Fernando Pessoa foi um dos maiores poetas portugueses, ao lado de Luís de Camões e Bocage. Seu talento era impressionante, e sua inteligência incomparável. Ao criar heterônimos e semi-heterônimos, tornou-se múltiplo. Cada heterônimo tinha sua biografia, caracteres físicos, traços de personalidade, formação cultural, profissão e ideologia. Mas apenas um heterônimo interessa para o nosso trabalho: Alberto Caeiro. Um homem simples, bucólico, viveu toda sua vida no campo, e criador de três obras: O Guardador de Rebanhos, Poemas Inconjuntos, O Pastor Amoroso. Dessas obras, apenas a última será analisada, pois é nessa que o eu-lírico mostra como o seu amor pela Natureza passou por dois momentos distintos. O primeiro quando ele não tinha a mulher amada, então amava a Natureza de uma forma infantil, via as coisas e procurava não pensar no significado delas. O outro momento refere-se à chegada da mulher amada; a partir daí ele precisa dessa figura feminina para contemplar a Natureza. Esses momentos marcantes nos levaram ao interesse de analisar as obras de Alberto para descobrir como esse poeta vê a Natureza, quais as mudanças em seu olhar.
A nossa pesquisa está no início. Já foram realizadas algumas pesquisas bibliográficas sobre Fernando Pessoa, a criação de heterônimos, o período histórico e literário correspondente à vida de Pessoa e a biografia de Alberto Caeiro. Faremos leituras sobre teorias poéticas e teorias sobre a Natureza. O livro Fernando Pessoa, o outro, de Gilberto de Mello Kwjawski, será de nosso interesse, pois nele temos a análise sobre a vida e a obra de Pessoa. Outro livro que servirá de apoio para nossa pesquisa é Poesia e realidade, de Carlos Felipe Moisés, nesse encontraremos uma crítica específica sobre Alberto Caeiro, ajudando na análise que faremos da obra de Caeiro.
Mas já é possível fazer algumas observações sobre O Pastor Amoroso. A obra aproxima-se da prosa, os versos e as estrofes são irregulares, o eu-lírico é o próprio Pastor Amoroso, que passa a ver na Natureza sua mulher amada, porém ela não ganha forma. A figura feminina o persegue, ele não consegue olhar apenas para a Natureza, pois ao olhá-la, seu pensamento traz a presença da amada. O texto é marcado por muitas comparações, e nele a Natureza é personificada.


Fronteiras entre Arcadismo e Romantismo na poesia de Almeida Garrett
Lílian Greco
Orientador: Prof. Ms. Alexandre de Melo Andrade

As obras românticas de Almeida Garret são conhecidas pela “renovação” que promoveram na literatura portuguesa. Porém o autor possui base clássica e nunca se desvencilhou totalmente de sua racionalidade e de aspectos da lírica tradicional. Muitos pesquisadores não reconhecem tais características; no entanto, Massaud Moisés, estudioso, pesquisador e difusor da literatura por excelência, ao defender o estado onírico como preponderante no Romantismo, afasta o poeta português de uma relação direta com os temas da escola romântica, filiando sua lírica a um racionalismo clássico. A seguinte pesquisa, portanto, vem mostrar que Almeida Garret, em suas obras poéticas, não possui o estado onírico no grau em que seria pertinente ao Romantismo. O resultado será de enorme relevância para os estudos literários, pois muda a concepção criada em torno do poeta.


domingo, 4 de outubro de 2009

SEGREDO

À Orides Fontela





A tua angústia vivida
Paralisou teu sangue convulso
E a limpidez de tua voz
Revelou a alvura de tua palavra.

Entre o verso e a vida
Ergueu-se o segredo.

(Alexandre de Melo Andrade)
Soneto nonecassílabo


Todo poeta acredita nos sonhos;
Achando que podem realizá-los;
Eu também acredito nos sonhos;
Mas jamais quererei realizá-los.

Pois quando os tornamos tão reais
Deixam assim de sê-los dos sonhos;
Passando a ser uma parte mais
De sua realidade em banhos.

Então, sonhos têm que ser dos sonhos;
A realidade da realidade;
Nós tanto dessa quanto daquela.

Viver assim entre as duas faz
Com que nós não morramos buscando
A realidadescontenta, ou sonhos.

(Michael Bonadio)